A felicidade de estar vivo é saber lidar também com a dor. Acho que o gosto da vida é esse. É um bom misturado com nostalgia, misturado com uma tristezinha, misturado com as alegrias, e quando você junta isso tudo, vem esse sentimento que a gente tem por dentro. Essa soma de sentimentos é a experiência humana, e eu acho que a felcidade é isso. É você saber apreciar essa mistura. A felicidade não é só a euforia. A euforia é só uma parte. A felicidade engloba também o silêncio, as pausas, as dúvidas, os suspiros. As pessoas querem passar a vida toda só na crista da onda, mas se a onda só fosse a crista, então a crista em si já não mais exisitira. E lutar conta a tristeza é só adicionar sofrimento ao que nem precisaria ser tão sofrido assim. Nesse mundo de dualidades (claro- escuro, quente-frio, homem-mulher, certo-errado, vivo-morto etc) a gente tende a precisar das duas coisas. É tudo parte do movimento, e a vida é esse movimento. A gente precisa dormir e acordar. Sair e voltar. Ouvir e falar. Sorrir e chorar. Vivemos na eternidade porque estamos num eterno momento presente, mas a cara dessa eternidade muda o tempo inteiro. O jogo está sempre mudando. E a gente pode tirar o melhor proveito do que existe (que é a vida e suas incríveis misturas) ou ficar esperando... Esperando pelo quê? Pela perfeição? Pelas alegrias eternas? Isso. Em vez de aproveitar o que existe, podemos ficar esperando... pelas coisas que não existem.
A tática da bolsa
Um dos últimos livros que tive o prazer de ler foi o maravilhoso Diálogos Impossíveis , de Luis Fernando Verissimo (Objetiva, 175pgs). Vou deixar aqui uma das crônicas de que mais ri: A tática da bolsa Luis Fernando Verissimo A Jussara estava afim de um cara e bolou um plano para conhecê-lo. Ou para ele a conhecer. Um plano minucioso, que descreveu para as amigas como se fosse uma operação militar. Em vez de conquistar um reduto inimigo, Jussara conquistaria o cara, que se renderia ao seu ataque. Ela acreditava que, no amor, como na guerra, audácia era tudo. Jussara sabia que José Henrique - o nome do cara era José Henrique - tinha dinheiro e não tinha namorada firme, duas precondições para seu plano valer a pena. Era bonito, era um intelectual (andava sempre com um livro embaixo do braço) e tinha hábitos regulares. Todos os dias saía do trabalho e sentava-se numa mesa de bar, sempre a mesma mesa, para comer uma empada e tomar uma cerveja (só uma,...