O celular e a fobia de compromisso
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Alguém aí ainda se lembra daqueles remotos tempos, nos quais marcávamos as coisas uma vez só e pronto? Ninguém tinha celular pra ficar combinando e recombinando, e de alguma forma, dava tudo certo. Você combinava uma coisa às vezes com uma longa antecedência, e fim. O dia chegava e as coisas aconteciam. E as pessoas sabiam que podiam contar com isso. Marcávamos coisas pro próximo dia, para a próxima semana, às vezes para meses depois! Naquele filme "Tarde demais pra esquecer" os personagens de Cary Grant e Deborah Kerr marcam um encontro no topo do Empire State para 6 meses depois! E tá, eu sei que na última hora ela é atropelada e que aí eles passam não sei quanto tempo no maior mal entendido de todos os tempos, e quem sabe se ela pudesse ter mandado um What'sApp do hospital... Bom, mas isso é hollywood. O caso é que eles se lembravam perfeitamente do compromisso e teriam se encontrado, caso o gênero do filme não fosse drama.
Eu não sei, mas tenho uma suspeita de que deve existir alguma ligação dessa coisa dos celulares com uma certa fobia de compromisso que permeia essas novas gerações. Mas também, pudera. Se a pessoa não consegue se comprometer em estar daqui 3 dias em tal hora e tal lugar, quanto mais se comprometer a estar daqui 20, 30 anos em tal relacionamento com a mesma pessoa. As pessoas querem deixar suas opções abertas. "Se na hora eu ainda estiver afim, confirmo." "Se na hora eu estiver com tempo, confirmo". "Se no dia eu lembrar, eu vou". Mas que coisa. O que aconteceu com o saber planejar o tempo? Ou organizar uma agenda? Ou de fato, se comprometer?
Acho que seria um bom exercício para todos nós se voltássemos a combinar as coisas uma vez só e pronto. Nos faria trabalhar de novo várias coisas que andam precisando de uma desenferrujada - a memória, inclusive.
[Em tempo, tenho uma amiga minha com quem ainda marco encontros para daqui não sei quanto tempo falando no assunto somente uma vez e no dia dá tudo certo. Adoro que ela é assim. E que também consigo ser.]
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