A entropia

Ouvi no rádio a leitura desse texto outro dia de manhã enquanto dirigia para o trabalho. Achei simplesmente fantástico! Melhor ainda foi que o encontrei na internet, para poder compartilhar com todos. Um ótimo dia!







A ENTROPIA

Luciano Pires

Entropia. Você sabe o que quer dizer essa palavra?



Entropia designa a tendência generalizada de todos os sistemas do universo, sejam eles naturais ou feitos pelo homem, de deteriorar-se. O corpo humano passa por um processo de entropia: vai envelhecendo e um dia morre. O automóvel também. Vai ficando velho, desgastando as peças e um dia vira sucata. O sol é assim. Vai queimando aos poucos, consumindo-se e um dia apagará. Essa camisa que você usa. Essa rua por onde anda. A casa onde mora. A lâmpada que lhe dá luz... Tudo isso um dia acabará, por um processo natural de entropia, de desgaste, inevitável. A única coisa que podemos fazer é tentar controlar a velocidade com que esse processo acontece. É na manutenção bem feita que está o segredo para retardar o processo de entropia que um dia nos levará ao fim. A manutenção de um avião, por exemplo, que faz com que ele voe 30, 40, 50 anos. Você, cuidando da alimentação e praticando exercícios físicos, retarda o envelhecimento. Limpar o chão, pintar a parede periodicamente, trocar as telhas quebradas, prolonga a vida da casa.




E sabe qual é o segredo que há por trás do segredo? É a existência de instrumentos que nos mostrem quando o processo de entropia está atingindo índices perigosos. A luz tem que acender. A sirene tem de tocar. E assim a equipe de manutenção é acionada e as providências necessárias para reduzir a velocidade da deterioração, executadas.
Mas... Encontrar e consertar uma goteira é fácil. O bicho pega quando o problema é social. Moral. Ético. Quando um desvio de conduta passa a ser considerado "normalzinho". Nesses casos, os instrumentos capazes de acionar o alarme não são máquinas, são pessoas. Gente treinada para perceber quando os índices de deterioração da sociedade atingem níveis perigosos. Gente com coragem para apertar o botão de alarme acionando a equipe de manutenção. E quem são essas pessoas, hein? Onde é que estão? Que ocupação elas têm? Será que são os políticos? Os padres? Os militares? Os executivos?
Pois quer uma boa notícia? Ou má, dependendo de seu ponto de vista?




Essas pessoas estão aí, ao seu lado. Uma delas, com certeza, é você. Que talvez nunca tenha considerado essa responsabilidade como agente que abre os olhos da sociedade para o nível de degradação a que se está chegando. E isso é compreensível. Precisa de tempo. Coragem. Generosidade. Perseverança.




Além disso, você deve estar ocupado demais trabalhando, não é?




Ah, mas não tem os conhecimentos necessários para perceber os sinais?




Pois saiba que a formação dessa gente se dá por meio de umas besteiras aí que deixamos de lado: educação e cultura. São a educação e a cultura que geram um olhar crítico, imune aos apelos comerciais da mídia e ao bla bla bla dos marqueteiros e políticos. E é então que se percebe o buraco em que estamos caindo. A combinação de quarenta anos de educação deteriorada; a cultura ao Deus dará; a mídia descompromissada; a incompetência generalizada; a confusão ideológica e o foco no curto prazo nos tornaram cegos para as luzes e surdos para as sirenes.




- O volume da televisão tá alto demais, não me deixa ouvir...




E quando ouço, tenho medo. A equipe de manutenção não tem ferramentas nem conhecimentos para corrigir os problemas...
E, pra piorar, neste Brasil da entropia sem controle, quem aciona o alarme é chamado de subversivo pela maioria cega e surda.
Pois quer saber? Acho bom você, seu subversivo, criar coragem e começar a apertar o botão de alarme.
Antes que a casa caia. De vez...

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