As pérolas do caminho

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Outro dia me dei conta de que este aqui já é o quarto país onde moro. Antes, morei obviamente no Brasil, e também na Suíça e na Suécia. E se cursos de 1 mês contarem como "morei em tal lugar" (eu não considero, mas tem gente que insiste que isso é morar), vai pra lista também a Alemanha. Além desses, já visitei outros 10 países, de Austrália a Lichtenstein, passando por Singapura (assim mesmo, com S, depois do novo Acordo Ortográfico), Estônia, Finlândia, chegando a Bélgica, Irlanda, França... Com essas, várias coisas que eu sei do mundo, não são porque apenas tive notícia - eu sei porque eu vivi. E continuo vivendo. Estou fora do país, tenho um cunhado irlandês, uma grande amiga suíça, outra canadense, e uma alemã que sempre dá notícias. Morei no mesmo corredor que japoneses, dividi a cozinha com franceses e suecos. Estive em muitas casas de europeus, comemorei muitos natais e reveillons em terras estrangeiras, fiz compras nos supermercados deles, peguei os bondes, trens, balsas, enfim, sei um pouco sobre esse mundão de Deus porque já dei minhas caminhadas.
É difícil eu falar com tanta candura sobre todos os países e lugares que conheço, porque as pessoas tem a mania de achar que isso é esnobar. E olha, se tem uma coisa que eu não me tornei depois de tantas viagens (mesmo tendo tido alguns motivos que não justificariam mas explicariam) foi esnobe. Aliás, essa está entre outras coisas tão importantes que aprendi nas minhas andanças. Eu gosto de me referir a essas conclusões como as pérolas que fui recolhendo pelo caminho. Eis algumas de tantas:



  • O modo como alguém conduz a vida não é o único possível, e longe de ser o "mais certo" ou o "melhor". Existem muitos modos de se viver, e o que a gente tem como "normal" é apenas uma das mil possibilidades.



  • O Brasil não é esse paraíso todo que o povo gosta de acreditar, nem o inferno todo que dá a impressão quando a gente assiste o jornal. Mas se o povo levasse as coisas sérias a sério, poderia estar mais para paraíso que para inferno.



  • Morar num país de primeiro mundo é realmente mais confortável.



  • Enquanto as pessoas esnobes acham que estão "mandando bem demais", tem gente levando vidas tão melhores que se elas soubessem, passariam mais tempo de fato aproveitando as coisas que elas já tem e menos tempo esnobando - que é uma das coisas mais sem sentido do mundo.



  • Ninguém precisa morar no exterior para aprender bem uma língua. Meu inglês é fluente porque fiz 6 anos de Thomas Jefferson em Brasília, não porque eu morei fora. Quando eu fui morar fora, já era fluente. Inclusive, nunca teria conseguido a bolsa de estudos pra Suécia se já não fosse, já que exigiam o Michigan e o TOEFL.



  • Ver as quatro estações do ano de fato acontecerem é uma coisa fantástica, que quem nunca saiu do país está perdendo.



  • Por mais massificado que o mundo possa estar, moda continua sendo uma questão cultural. Esse relógio que fulana comprou e acha que está arrasando não faria a menor vista em outros lugares. A tal da bolsa do momento, mesmo caso. Coisas são apenas coisas.



  • Se algo parecer esquisito demais no prato, não coma. Se você já estranhou só de olhar, seu estômago provavelmente vai terminar estranhando também.



  • Os esteriótipos quase nunca são o caso, mas costumam ter um fundo de verdade.



  • A felicidade não está nos lugares, mas dentro das pessoas que lá estão. Não importa para onde você for, é com você mesmo que você vai chegar lá. Viagens podem trazer uma felicidade imensa, mas só se você já estiver nesse estado de espírito.



  • Viajar faz muito bem, mas você tem que estar atento para aprender as lições. Não acontece por osmose.



  • Tem lugares no mundo que a gente realmente gosta mais. Tem lugares muito especiais escondidos, que quando a gente encontra dá uma paz tão boa. É como um voltar para uma casa onde você já havia morado mas não se lembrava mais.



  • O slogan do Bombril devia ser o das Havaianas: mil e uma utilidades.



  • E sim. Nunca conte com um alemão para animar a sua festa.

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