Para quem eu escrevo o blog

Vez ou outra quando eu comento que tenho um blog ouço a pergunta: para quem você escreve? Acho o questionamento bem estranho, já que nunca me passou pela cabeça escrever "para alguém". O nome do blog diz tudo: entre sem bater. Ou seja, quem quiser chegar é bem-vindo. Escrevo para quem quiser ler. Escrevo para os leitores - sejam eles quem forem.





Claro que ao longo do tempo fico sabendo de pessoas que leem meus posts, e vou dizer: é sempre uma grande surpresa. Tem muita gente que eu diria que seria leitor assíduo, e que nunca acessou uma vez sequer. Ao mesmo tempo, há pessoas que eu nunca, em um milhão de anos, acharia que gostariam de ler minhas coisas, e que gostam. Quando descubro esses últimos, fico imensamente feliz.



Mas nunca pretendo escrever "para alguém". Até porque, acho que a coisa pararia de ser autêntica. Várias vezes estou escrevendo algo e prefiro até "esquecer" ou por um momento "desconsiderar" as pessoas que eu sei que provavelmente vão ler, para não correr o risco de querer me censurar.


Porque eu entendo esse blog assim: eu amo escrever. Se tem uma pessoa para quem eu escrevo é para mim mesma. Se hoje existe a possibilidade de permitir o acesso de quem quiser a meus pensamentos, maravilha. Se você entra aqui, que bom, volte sempre! E os que não entram, mesmo sabendo que eu tenho um blog e que adoro ser lida, respeito. Meus pensamentos não são para qualquer um mesmo. (brincadeira)

Enfim. Tem uma crônica do Luis Fernando Verissimo que diz, com palavras muito melhores, o que eu penso sobre o ofício da escrita. Deixo para vocês, escritores ou não, uma reflexão que adoro:



"Fazer dançar os ursos - Luis Fernando Verissimo

Por esses dias li uma citação do Flaubert sobre a insuficiência da linguagem, em que ele diz que a fala humana é como um caldeirão rachado no qual tiramos sons que fazem ursos dançar, quando o que queremos é mover as estrelas. A citação estava em inglês, não garanto a fidelidade ao francês original. O que Flaubert disse da fala vale para a literatura, mesmo esta pequena literatura em poções da crônica, diária ou semanal. Até os menos pretensiosos entre nós têm a secreta ambição de acordar o universo com o seu caldeirão rachado, e devem se resignar a, eventualmente, fazer dançar um urso. Ou, com sorte, dois ou três.

Seria um ofício respeitável, produzir música para ursos sem outras intenções. Os ursos, ao contrário dos cronistas, não têm a menor vontade de afetar as estrelas com a sua existência, ou com os seus ruídos. Preocupam-se com as suas circunstâncias, com o seu alimento e o seu abrigo e com os outros ursos. Contam com os nossos sons para lhes entreter e, vez que outra, iluminar, ou irritar, e não querem saber se o nosso, por assim dizer, público-alvo prioritário esteja nas esferas celestiais. Flaubert se referia à incapacidade do homem expressar tudo o que sente com um instrumento
imperfeito como a linguagem (embora "caldeirão rachado" seja perfeito), mas
também poderia estar escrevendo sobre o desencontro entre a intenção e a
percepção da linguagem, ou sobre a impossibilidade da comunicação humana
resumida na incurável assincronia entre escritor e leitor. Pois os ursos
dançarem com os sons que fazemos é o resultado, antes de mais nada, de um
tremendo mal entendido. No fundo, o que você está fazendo, lendo esta crônica, é
um ato de bisbilhotice. Ela não é para você. Nem é para dançar. Pare
imediatamente.

Não há notícia de um escritor que tenha movido as estrelas com suas palavras. Nem mesmo Flaubert. Alguns tiveram a ilusão de terem mudado a vida dos ursos, e assim de alguma maneira afetado o Universo. Mas foi só um consolo."

Comentários

  1. Também já ouvi esta pergunta e penso como você. Posso não ser sua leitora assídua, mas eu diria eventual - sempre que posso; melhor ainda quando posso explorar seu blog.
    Considero um privilégio poder deixar à disposição de um mundo aquilo que escrevemos com prazer num blog ou noutro veículo público.

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  2. Muito legal Simone...eu jah sou assidua!
    Eu tb escrevo... Nao como vc. Diria que nao eh para quem e sim para que.

    Acho que escrever organiza os pensamentos, acalma a mente, o coraçao e as vzs eh apenas uma forma de desabafo.

    Sabe igual a coisa do Pele e do Edson?? Entaum, acho que eas vzs escrevo para a Mariana!

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  3. Oi, Mariana! Falou e disse quando diz que não é "para quem" mas sim "para que". Exatamente! Mas que tipo de coisa você escreve? Diários? Pensamentos? Poemas? E sim, entendo perfeitamente o escrever para nós mesmas. Faço diários desde que aprendi a escrever e acho fundamental. Que bom que você escreve também! = )
    Grande beijo!

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  4. Oi, Geni! Muito obrigada pela visita! Fico lisonjeada em saber que você me visita de vez em quando! E de fato, é um grande privilégio e uma das coisas que mais gosto dessa era da internet é o fato da gente poder compartilhar com quem quiser nossos pensamentos, dúvidas, filosofias... Grande abraço!

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  5. Ah... Escrevo meus pensamentos basicamente. Nunca tive muita disciplina para fazer diario... Escrevo tb qdo me sinto sozinha triste... Sei lah...
    Qdo estou feliz e amando tb heheheh
    Bjks

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