Do limão, uma limonada

O último livro que tive o prazer de ler foi "A cientista que curou seu próprio cérebro" (My stroke of insight - a brain scientist´s personal journey, Viking Penguin: 2006, 177pgs) de Jill Bolte Taylor, Ph.D. Achei fantástico. O livro conta a história verdadeira de sua autora, uma neurocientista e pesquisadora de Harvard que sofre um derrame no lado esquerdo do cérebro e passa quase oito anos em tratamento até se recuperar por inteiro.


O que você acha que acontece quando uma neurocientista vê seu próprio cérebro sofrer uma grande limitação e passa a ter que conviver com isso durante anos? A resposta é surpreendente. Principalmente porque a Dra. Jill teve a sorte de ter tido o derrame do lado esquerdo. "Como assim, teve a sorte?", você me pergunta. Pois é o que ela mesma diz do que aconteceu. Que foi algo maravilhoso. E por quê? Senta que lá vem a história.


Em seu livro, depois de contar detalhadamente sobre a experiência em si do derrame (um relato bastante útil para quem é da área da saúde - afinal, ao mesmo tempo em que passava pela experiência, ela entendia o que estava acontecendo, e com isso foi capaz de descrever tudo com grande precisão), a Dr. Jill revela o que acontece quando o lado esquerdo do cérebro (racional e analítico) dá um tempo e o direito (emocional e criativo) toma conta.


E a primeira coisa é um sentimento de paz indescritível.


Ah, é. Isso porque de repente ela não tinha mais suas memórias - e com isso lá se foram as raivas, os desapontamentos, os julgamentos, as pressões internas, enfim, toda a bagagem emocional que uma pessoa pode carregar.


Também me surpreendeu no relato quando ela conta que, quando o hemisfério esquerdo não estava mais lá para dizer a ela onde uma coisa terminava e onde a outra começava, ou para dar a ela a noção de três dimensões, que ela passou a ver tudo como um emaranhado de moléculas vibrando com energia - inclusive o próprio corpo. Com isso, ela ganhou o entendimento (bem budista!) de que, primeiro, a forma como vemos ao mundo e a nós mesmos é, em parte, produto da nossa própria imaginação [Afinal, por exemplo, a gente acha que vê um sofá como ele é. Mas na verdade, vemos só um dos jeitos que um sofá é. Porque sim, ele é aquele sofá que estamos vendo mas também é de outro jeito - que não estamos vendo.] [Alguma semelhança com Coríntios 13:12? "Agora vemos em espelho por enigma, mas então veremos face a face. Agora conheço em parte mas então conhecerei plenamente como sou conhecido."] E segundo, que somos todos unos com o universo, e que por isso não fazem sentido nem o apego nem a dor da separação.


Outra coisa que aconteceu uma vez que o lado esquerdo do cérebro estava danificado é que de repente ela se viu sem seus traços da personalidade. Nesse ponto ela se pergunta como era possível que, mesmo sem saber seu histórico de vida, sem ter sua personalidade e sem perceber seu corpo como algo separado do resto de tudo que existe, que ela ainda assim se percebesse como indivíduo. O que era isso que a definia então?, ela se pergunta. Seu espírito? Sua consciência? Seriam a mesma coisa?


Outra parte interessante é quando ela discorre sobre os tipos de energia das pessoas. Mesmo sem conseguir distinguir o que era o corpo de uma pessoa do que eram os móveis do hospital, por exemplo, ela ficava sabendo quando era uma pessoa que se aproximava por conta do tipo da energia - e também era capaz de fazer a diferença entre as enfermeiras "do bem" e as "do mal", já que as qualidades das vibrações eram bem diferentes. E por aí vai. O livro é curto mas denso em informações, por isso tudo o que estou dizendo aqui está bastante resumido. O que posso dizer é que é uma leitura interessantíssima, que vale a pena ser feita.


Ela conclui o livro com a mensagem de que a paz interior (que é como um programa que "roda" constantemente no lado direito do cérebro) está disponível para nós o tempo todo, e sempre no momento presente. Que nós somos responsáveis pela energia que emanamos e também pelas energias que deixamos que entrem em nossas vidas. E que nós não somos simplesmentes produtos (ou vítimas) de nossos cérebros mas sim, que somos capazes de escolher quais circuitos queremos ativar ou desativar, e assim domar traços não tão bons de nossas personalidades, nos tornando pessoas mais felizes e serenas. E que somos unos com tudo o que existe, e portanto, devemos sempre e somente procurar o bem. Uma mensagem bastante espiritual baseada em fatos científicos. Não é fantástico?

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